Como num conto de fadas, quando chegámos para visitar a Quinta, tivemos a sensação de chegar a uma casa numa floresta encantada fechada ao mundo com portões altos que apenas ocasionalmente se abrem aos demais. Tínhamos despertado a curiosidade através do goliardo João relativamente a esta quinta, bastante escondida ao sopé do Etna e que cultiva a discreção em autarcia. Depois das portas abertas, ficámos rapidamente deslumbrados pela magia do lugar e pelo calor humano da Federica e do Cesare.
Em 2005, Federica Turillo e Cesare Fulvio, Sicilianos nativos de Catania, mudaram de vida deixando as suas respectivas profissões de instrutora de tiro ao arco e de piloto aéreo para se dedicar à vida agrícola. Encontraram na Masseria del Pino o lugar para viver de forma mais serena, em harmonia com a natureza e de forma autosuficiente. À volta de Randazzo, a 800 m de altitude, agarraram em 400 oliveiras e um pouco menos de 2 ha de vinhas com mais de 120 anos, essencialmente em pé franco, com as castas brancas Minella, Carricante, Catarratto, Pizzutella, e Nerello Mascalese e Nerello Capuccio em tinto. Além das próprias vinhas, cultivam também desde 2019, na zona de Bronte, mais famosa pela produção de pistachios, uma vinha de Garnacha com 75 anos que os donos já não conseguiam acompanhar. O cultivo natural das vinhas, cavadas manualmente e adubadas e tratadas com estrume animal e produtos preparados a base de plantas, cinzas e enxofre natural que eles próprios produzem, prolonga-se na adega com uma vinificação que usa o velho palmento (lagar tradicional siciliano onde o vinho vinha prensado por uma longa trave de madeira) para pisar as uvas não desengaçadas que fermentam em tonéis de 500 l que podem ser de carvalho ou de castanheiro. O uso de sulfuroso é parcimonioso ou nulo. Livres pensadores, Federica e Cesare são pessoas reflexivas e determinadas que conseguiram criar um ninho onde se exprime harmonia em todas as componentes produtivas abordadas como um conjunto. Os vinhos Caravan Petrol (branco), SuperLuna (rosé), I Nove fratelli (Tinto), o o mais recente Rosso Miriam (tinto) revelam uma profundidade de expressão rara e ao mesmo tempo uma linha sápida e fluída que dá luz ao mítico terroir do Etna. Cuidando de cada detalhe, os rótulos poéticos são imaginados pela Federica e concluem em beleza todo o processo produtivo.