Andávamos há bastante tempo para dedicar uma sessão das 1001 noites aos vinhos da Estremadura. Mas sabíamos à partida que não iria ser uma tema muito sexy e para o qual teríamos dificuldade em ter adesão.
Fomos deixando para amanhã o que podíamos ter feito ontem, e entretanto, a partir de 23 de Abril (data relevante para os Goliardos…), foi criada a Região de Vinhos de Lisboa, substituindo a designação Vinho Regional Estremadura. Obviamente não significa isto que se estejam a fazer vinhos no Parque Eduardo VII, mas sim que agora os “Colares”, “Bucelas”, “Carcavelos”, “Óbidos”, “Alenquer”, “Arruda dos Vinhos”, “Encostas D’Aire” e “Torres Vedras” são vinhos de Lisboa, muito mais sonante, e que nada mais mudou. Poderíamos chamar a esta operação a Capitalização dos Vinhos.
(Qualquer dia… vão chamar aos vinhos da Bairrada, vinhos de Coimbra, e aos vinhos do Algarve, vinhos Allgarvines.)
Uma região em regressão
Assim sendo, decidimos dedicar uma sessão à Região de Vinhos de Lisboa. Hoje em dia com a produção em regressão, a região continua a ser a que mais produz em quantidade de vinhos de mesa, muitos não considerados vinhos de qualidade. A região tem uma longa tradição de vinhos, com um desenvolvimento que se deveu a diferentes factores: região de tradição rural, vocação e conhecimentos difundidos por várias ordens religiosas que se estabeleceram na região (Beneditinos, Clunicenses e Cistercenses), proximidade a grandes centros urbanos consumidores e muito em particular Lisboa. Hoje em dia, a expansão imobiliária, a conversão de uma região de cariz rural em zonas urbanas, o crescimento de outras regiões vitivinícolas, em particular Douro e Alentejo, e também a falta de um certo dinamismo local dentro da área têm vindo a colocar os vinhos da região fora de moda e por consequência a fazer regredir a área de vinha.
O grande potencial da região
Temos encontrado vários produtores de regiões actualmente na mó de cima que nos dizem que a Estremadura (perdão, Lisboa) é uma região com um grande potencial e onde gostariam de produzir um dia. A proximidade ao Atlântico permite manter frescura e produzir vinhos menos pesados, menos alcoólicos, mais equilibrados. Em anos quentes como é o caso de 2009 esta região fica com um sorriso de orelha a orelha face a maturações potencialmente perfeitas, enquanto Douro e Alentejo transpiram de ver uvas sobremaduras. Em anos frescos, sofrerá a Estremadura provavelmente da dificuldade de maturação.
Região com grande diversidade
A variabilidade de solos e de microclimas na região de Lisboa, principalmente determinada pela proximidade ao Atlântico, pela altitude e pela exposição aos ventos, permitiu ao longo dos tempos criar uma grande diversidade de vinhos e de cada pequena sub-região definir um estilo próprio. Não é de estranhar a existência nesta região das mais pequenas Denominações de Origem do País, como Carcavelos com pouco mais de 10 hectares, dedicada a vinhos generosos, Colares com 22 hectares, dedicada a vinhos realizados em Chão de Areia, bem como DOC’s de maior dimensão como é o caso de Bucelas dedicado à produção de vinho branco.
Nas 1001 noites de 5ªfeira
Iremos provar uma selecção de vinhos goliárdica da região de Lisboa e ver se os lisboetas se rendem aos seus vinhos da sua região!
Cheira bem, cheira a Lisboa!!!