Caros Goliardos, Ao longo destes anos de viagem pelo vinho, deliciamo-nos quando descobrimos um novo produtor que nos faz brilhar os olhos através dos seus vinhos, mas o que nos enche verdadeiramente a alma é a confirmação de um produtor, vindima após vindima. François Chidaine é um deles.
Faz parte dos produtores com que trabalhamos desde o início, e faz parte daqueles que nos continuam a surpreender pela precisão, pela exigência, pelo contributo na revelação de terroirs desconhecidos através de vinhos sempre excepcionais. Estivemos na Loire em Janeiro e viemos com a confirmação que Chidaine entra no círculo dos produtores que fazem arte. Os seus vinhos acabam de chegar. Estamos em pulgas para vos dar a conhecer! Cumprimentos goliárdicos, Nadir e Sílvia |
François Chidaine François Chidaine não oferece sorrisos gratuitos. A última vez que o encontrámos foi num encontro de vinhos na Loire e numa primeira abordagem ficámos a pensar que não nos tinha reconhecido. Serviu-nos um copo, numa expressão séria e fria. Depois perguntou-nos se o encontro Vinho ao Vivo tinha corrido bem. Apercebemo-nos que sabia quem éramos. Pensámos então que não devia estar num dia muito feliz. A produtora catalã que nos acompanhava na viagem à Loire, Marta Rovira, repetiu incessantemente toda a noite: “ele está com algum problema, certamente!”.
No dia seguinte, voltámos a encontrá-lo. Quis saber quem eram os produtores espanhois, saber que vinhos faziam, convidou-os a visitar a quinta e ficarem em sua casa. O gelo quebrou-se e François esboçou um sorriso tímido, verdadeiro e tão surpreendente que nos sentimos calorosamente abraçados. A sequência magnífica dos vinhos que nos deu a provar derreteu toda a qualquer distância que ainda restava. A timidez que se mascarava de frieza tornara-se sedutora. A Marta Rovira, rendida aos vinhos e a quem os fez, concluiu que o problema que o devia verdairamente atormentar no dia anterior era como manter aquele patamar de qualidade nos seus vinhos daqui em diante. Foi em 1989 que François Chidaine se lançou como viticultor independente, depois de ter apoiado durante 5 anos os seus pais e ter acompanhado as dificuldades económicas que sofriam apesar do trabalho extenuante que lhes dava a vinha. Decidiu então recuperar 3 ha da família e comprar 1,5 ha. Em 1998 tinha já 10 ha de vinhas em Montlouis e em 2002 alugou 10 ha de vinhas na vizinha Vouvray que sempre gozou de um prestígio maior. Hoje tem 35 ha: 20 ha (45 parcelas) em Montlouis, 10 ha em Vouvray e 5 ha na DOC Touraine onde vinifica um tinto, um rosé e um branco (Sauvignon blanc). Criou juntamente com a sua mulher Manuela uma garrafeira em Montlouis para dar a conhecer os vinhos da Loire mas também de outras regiões e países. É hoje um produtor (re)conhecido pelos vinhos e também pela sua capacidade de dinamizar a região, associar os seus produtores e apoiar jovens viticultores que se investem na realização de vinhos autênticos e reveladores das diferentes parcelas. Para François Chidaine, o vinho implica uma paixão individual mas também um movimento colectivo local e global. É uma vida de dedicação e um trabalho sério ao longo do tempo. Vouvray e Montlouis: a DOC aristocrática e a DOC camponesa Estas sub-regiões vizinhas, apenas separadas pelo rio Loire, ambas dedicadas à produção de brancos com a casta dominante Chenin, começaram ter uma só referência: Vouvray. Em 1936 era criada a Denominação de Origem Controlada Vouvray. Esta incluia as parcelas de Vouvray e igualmente as parcelas de Montlouis vizinhas a Vouvray, junto ao rio Loire, deixando de fora as restantes parcelas de Montlouis. Dois anos depois era criada a DOC Montlouis por reacção dos produtores desta zona à discriminação criada pela DOC Vouvray. Em boa verdade, a rivalidade não começara nem termina aqui: Montlouis vivia na sombra de Vouvray, a aristocrática rival, até aparecerem 2 produtores: François Chidaine (nativo de Montlouis) e Jacky Blot (proveniente de Paris) dinamizaram esta DOC e arrastaram uma nova geração de produtores que fez com que os vinhos de Montlouis sejam hoje tão ou mais interessantes que os Vouvray. Montlouis é situada na margem esquerda da Loire e o coração da DOC situa-se no planalto triangular delimitado pelas aldeias de Montlouis, Lussault e Saint-Martin le Beau, com um vinhedo exposto maioritariamente a Sul, em encostas suaves, viradas em direcção do rio Cher. Bordada a Norte pela Loire, a Sul pelo Cher e a Este pela floresta de Amboise, Montlouis beneficia dum micro-clima ameno com influência atlântica que permite uma boa maturação das uvas da casta Chenin Blanc. Chidaine qualifica a DOC Montlouis de mais feminina enquanto Vouvray seria mais qualificada pela potência e riqueza. Os vinhos provenientes do planalto de Montlouis são potentes e ricos, com uma trama ácida marcada e uma boa aptidão à guarda. Os vinhos provenientes das parcelas mais arenosas são finos e elegantes. O ano 2008 Um ano climatérico típico do Loire com temperaturas frescas durante o ciclo da vinha, um fim de verão e inicio de Outono solarengo e seco permitiram concentrar as uvas, dando um perfil maduro com uma boa acidez e vinhos para apreciadores de brancos aprimorados. O ano 2009 É um ano que alguns situam entre a riqueza e sobre maturação de 2003 e a frescura e profundidade de 2005. Ano que deu vinhos mais concentrados e redondos que o mais fresco e mais típico 2008. Os Vinhos que iremos provar Montlouis Clos du Breuil: terra argilosa, com uma forte proporção de sílex grande, difícil de trabalhar, terroir ingrato e fresco, exposto a Noroeste. Montlouis Choisilles: em geral este Montlouis, proveniente das parcelas Clos Renard e Epinais, com vinhas de 90 anos em solos argilosos e de silex, é produzido com esta etiqueta nos anos em que não é possível produzir um branco meio-seco ou doce. Montlouis Bournais: Terroir virado pela Loire a dominante calcário, comprado há 10 anos pelo produtor, que dá vinhos duma grande profundidade e complexidade. Vouvray Les Argiles: Vinhedo com 40 anos, o solo é composto de argilas profundas com um giz branco friável. Vouvray Clos Baudoin: Foi esta parcela que levou o Chidaine a comprar vinhas na rival DOC Vouvray. Tem o mesmo tipo de solo que Les Argiles. Este “clos” é hoje considerado um potencial candidato para uma classificação Grand Cru no projecto de distinguir os sítios qualitativos de Vouvray. |