Prova de tintos da Bairrada (ou quase)
23 de Maio de 2016, em Lisboa no Café Tati, com a participação de 24 pessoas.
Método de prova:
Foi dada a lista de vinhos e um descritivo dos mesmos a cada uma das pessoas presentes.
Os vinhos foram servidos às cegas e a ordem era apenas conhecida pela pessoa responsável pelo Café Tati.
No final foi feita uma votação em que cada participante podia dar 0 votos a um vinho que não tinha gostado, 1 voto a um vinho que tinha apreciado ou 2 votos ao seu vinho preferido. Houve ainda a tentativa de acertar na ordem dos vinhos, o que foi conseguido na totalidade por 1 pessoa. A ordem aqui apresentada foi a ordem pela qual foram servidos os vinhos.
Resultados:
Os vinhos mais votados foram curiosamente os dois de estilo mais tradicional e com mais idade: Sidónio de Sousa Reserva 2009, num estilo mais intrigante, equilibrado e fino, e Quinta das Bageiras Garrafeira 2009 num perfil tradicional a corresponder às expectativas do estilo da região. O terceiro vinho mais votado foi um vinho que não é da Bairrada, mas que é feito num estilo tradicional da Bairrada, o Quinta da Serradinha 100% Baga 2012, apenas num perfil mais aberto e livre. Os restantes vinhos mostraram novas interpretações da Bairrada, numa busca de um estilo menos pesado, menos guloso ou menos massiço, cada um teve o seu público, e todos deixaram dúvidas sobre equilíbrio e tipicidade. No conjunto, a Bairrada revela hoje poucos tradicionais mas os poucos convencem e são apreciados, e revela uma nova geração chegada de fora que está a dar os seus primeiros passos, com experiências nem sempre bem sucedidas, mas que criam vitalidade e debate na região.
A. Qta da Vacariça Baga 2012
François Chasans é “caviste” em Paris e em 1998 provou um Bairrada que o levou a querer fazer vinho aqui. A Quinta da Vacariça tem cerca de 3ha, com alguma zona de vinha velha e outras de plantação recente. Faz uma viticultura biodinâmica e busca a representação máxima do terroir, com plantação de clones vários, rendimentos baixos, bem como vinificações clássicas, estágios longos, com pouca intervenção.
Notas de prova: primeiro vinho a ser provado, apresentou-se de imediato como um estilo menos tradicional da Bairrada, com um corpo menos espesso e mais seco, menos guloso no conjunto, com taninos presentes mas menos massiços do que os tradicionais. Inicialmente apresentou algumas notas doces, deixando dúvidas se seriam provenientes da fruta ou da madeira. Simultaneamente apresenta toques vegetais e mentolados e apareceu com um toque sub-maduro em boca, num estilo mais seco e tenso. Este vinho teve 14 pontos.
B. Niepoort Lagar de Baixo 2013
Dirk Niepoort apaixonado pela Bairrada começou por fazer vários projetos na Bairrada até comprar a Quinta de Baixo em 2012, situada em Cordinhã (Cantanhede). O Lagar de Baixo busca um perfil clássico com uvas de vinhas velhas e vinhas mais jovens, 100% baga. O 2013 foi um ano bastante húmido com verão pouco quente, com ciclo atrasado foi vinificado em lagar, 20% com engaço, onde fermentou e macerou durante 4 semanas. A maloláctica ocorreu em barricas velhas de 228L, onde estagiou durante 18 meses. Foi engarrafado sem filtração. Busca um perfil não tradicional com uma nova interpretação da Bairrada.
Notas de prova: Vinho com toque aromático de frutos pretos, cereja, e toques campestres mas também com toque vegetal. Em boca taninos e acidez bastante presentes. Com o tempo em copo, revelou um toque de volátil e menos coesão do que inicialmente. Este vinho teve 19 votos.
C. Quinta das Bageiras Garrafeira 2009
Mário Sérgio desde sempre privilegiou um estilo regional clássico: vinhos com as castas indígenas, tintos fermentados em lagar, vinificação sem desengace e o mínimo de intervenções, estágio em madeira usada. Vinho 100% Baga, maceração em lagar com engaço 9 dias, estágio em grande toneis durante 18 meses, engarrafamento sem filtração, num ano quente.
Notas de prova: Um vinho rapidamente reconhecido como um clássico, representativo do que consideramos Bairrada. Entrada quente reveladora de um ano com calor, denso e potente mas com capacidade de equilíbrio, notas mentoladas, balsâmicas e algumas terciárias, indiciando um vinho já com 7 anos, com boa vitalidade. Este vinho teve 31 votos, sendo o segundo vinho mais votado, e foi o que foi mais facilmente identificado.
D. Tiago Teles Gilda 2012 (Vinho de Portugal)
Tiago começou por beber muitos vinhos e a escrever sobre eles das”5 às 8″ conciliando com o seu trabalho de engenheiro de telecomunicações até às 5. A amizade com Carlos Campolargo levou-o a usufruir das uvas deste produtor para produzir vinhos que buscam a fluidez, a espontaneidade e a expressão dos solos onde eles nasceram, com uma interpretação nova do que é a Bairrada, com tanto ou maior respeito pelo território de origem. Este vinho não tem denominação de origem Bairrada, e é feito com as castas Merlot,Tinta Barroca, Tinto Cão, castas não autóctones da região, fermentação em lagar sem engaço, com estágio de 6 meses em barricas usadas.
Notas de prova: Vinho claramente diferente dos restantes, mais fluído e menos tânico. Inicialmente numa gama mais frutada, rapidamente passou a um perfil mais fresco e vegetal. Levantou-se o debate se este vinho tinha identidade bairradina. Era evidente que não era baga, mas que simultaneamente tinha algo de Bairrada, no seu perfil fresco e vegetal. Este vinho teve 15 votos e foi facilmente identificado como o vinho de um estilo menos tradicional da Bairrada.
E. Filipa Pato Territorio Vivo 2012
Filha de Luís Pato, Filipa Pato decidiu fazer o seu próprio projeto, após passar pela Argentina. Procura fazer vinhos sem maquilhagem, feitos na vinha, e vinificações sem intervenção. Vinho feito a partir de vinhas velhas localizadas em Ourentã, Silvã, São Lourenço do Bairro e Vilarinho do Bairro. Fermentado em tradicionais lagares abertos de carvalho durante 3 a 4 semanas e estagiado em pipas durante 12 meses.
Notas de prova: Vinho bastante fluído, com taninos presentes sem excesso, e com acidez elevada. Aromaticamente um vinho menos bairradino, com uma fruta mais internacional, escapando em nariz da expressão do local de origem.
Este vinho teve 19 pontos.
F. Bairrada Sidónio de Sousa Reserva 2009
A família Sidónio de Sousa procura seguir num estilo clássico, introduzindo alguns vinhos mais modernos. Vinho produzido com 100% da casta Baga. Foi vinificado segundo métodos tradicionais em lagares pequenos, abertos com maceração manual. Estagiou durante 24 meses em toneis velhos de carvalho nacional de 4000 litros.
Notas de prova: Vinho com uma primeira entrada alcoólica e potente, talvez do ano quente, mas que depois se dissipou e revelou um vinho com grande elegância e equilíbrio, fresco sem acidez destacada, e aromaticamente seco sem exuberância. Não era fácil identificar notas terciárias e a idade deste vinho, com muita juventude e finura, pelo que também não foi fácil identificar o vinho, deixando muita curiosidade.
Foi o vinho mais apreciado da prova, com 39 votos.
G. Leiria (Região de Lisboa), Quinta da Serradinha Baga 2012
A Quinta da Serradinha pertence à região de Lisboa, mas tem mais de Bairrada que muitos Bairradas, localizada em Leiria, numa zona já fronteiriça das duas regiões. António Marquês da Cruz é a quinta geração que toma conta da quinta, com vinhas plantadas desde 1957 na zona de Leiria, na DOC Encostas de Aire, num clima de influência atlântica com precipitações elevadas e verões secos mas com brisas matinais que conferem uma maturação lenta que preserva a complexidade aromática. Vinho apenas de casta Baga, estágio em barricas velhas durante 22 meses.
Notas de prova: vinho que inicialmente teve uma entrada com toques que faziam pensar em madeira (torrado, baunilha). Com tempo no copo, revelou aromas de fruta preta tipo cassis mas igualmente alguns balsâmicos, denso com um bom equilíbrio e frescura, sem acidez nem alcool de forma destacada, com toque ligeiro de volátil, num estilo aberto e livre. Este vinho teve 27 votos e não foi evidente para os participantes que não era um vinho da Bairrada.