Vinho ao Vivo 2018, Festival Europeu do Terroir, 13 e 14 de Julho
Entrevistas realizadas por Nadir Bensmail d’Os Goliardos
Miguel Louro Junior, Apelido (Alentejo, Estremoz)
1. Para começar na produção de vinhos, apostaste mais nos brancos com o Apelido e o 1º nome, é para não competir com o Pai, que ocupa bastante espaço na história vínica de Estremoz?
Aposta principal nos brancos por 3 razões;
Quando comecei a pensar o que fazer da vida, coisa que ainda hoje não tenho 100% certa, a conclusão a que cheguei foi que teria que fazer principalmente o que gosto e fazer diferente. O que gosto tem a ver com estes brancos mais frescos, castas portuguesas pouco comuns nas planícies do Sul, mais ligeiros no álcool mas gastronômicos. Se olharmos para os brancos do Alentejo de há dez anos atrás, salvo raras excepções claro está, o que eu gosto e comecei a fazer é equivalente a fazer diferente. Pura sorte… ou azar caso o consumidor não compreenda!! Nos tintos, aquilo com o que me identifico no Alentejo é o estilo da Quinta do Mouro. Jamais conseguiria e quereria fazer igual.
Em 2010 o meu Pai não tinha uvas brancas, nem sei se teria na altura vontade de fazer vinhos brancos. Vi aí, também, uma porta de entrada no mercado, sem ‘competir’, mas se fizesse bem feito e fosse aceite começava a criar o meu espaço. Nunca quis andar com os meus vinhos atrás dos dele, mas era um segmento que não havia e eu tinha a vontade e o gosto de a trabalhar.
A 3a mas não mais importante, o desafio de transformar o famoso Miguel Louro, produtor dos grandes tintos da Quinta do Mouro, em produtor de grandes brancos. Que arranjasse espaço para ter umas barricas para brancos, já consegui. Que sinta o entusiasmo por fazer brancos frescos lá no calor alentejano, já consegui. Só falta mesmo convencê-lo a enxertar umas trincadeiras que ainda lá tem…
2. Do Mosel para Estremoz, como pões em prática a experiência alemã?
Estaremos todos de acordo se disser que, fazer vinho ‘vivo’ é igual em qualquer região do mundo. Plantamos vinhas num terroir que acreditamos, escolhemos as castas que gostamos, colhemos as uvas quando estão no ponto e engarrafamos o estilo que criamos. Em Estremoz os meus vinhos são principalmente blends, as vinhas sofrem num clima quente e seco, as uvas amadurecem num menor período de tempo, quero com isto dizer que é praticamente o contrário do Mosel e por isso nunca irei aceitar como elogio, qualquer comparação ‘a acidez dos teus vinhos vem do Mosel’, fiz o meu primeiro apelido antes de ir para o Mosel. Experiência alemã é positiva? Super, sou hoje, mais organizado, mais pragmático, mais eficiente… Em termos vínicos, mais calmo por saber que em Estremoz as uvas são sempre sãs e um mau ano pode ser só na qualidade. O Mosel fez me também mais ‘terroirista’, faz me olhar para cada elemento da vinha para encontrar o diferenciador dentro da mesma parcela. Fazer 20 vinhos diferentes com apenas uma casta é ir ao encontro do que chamamos ‘terroir’. Uma mesma vinha de 40ha, ter mais de 150 donos e todos fazerem vinhos diferentes é mais uma vez ‘terroir’.
Creio que acima de tudo, o Mosel fez me encarar a vida de frente, acreditar e trabalhar no caminho que criamos, correr os riscos necessários em prol de um produto mais autêntico, aceitar o que e como a natureza nos dá, como aqui continuam a fazer à largas centenas de anos, desde que plantaram vinhas a 70% de inclinação!!!
3. Vinhos de terroir e vinhos pensados em função do consumidor médio, como fazer os segundos sem comprometer os primeiros?
Como qualquer sério produtor de vinho, abro menos garrafas do que aquelas que produzo. Gosto de beber vinho, gosto de provar vinhos, gosto de partilhar garrafas, gosto de visitar outras regiões, gosto de conhecer outros produtores. Prefiro Branco a tinto e não gosto de rose, prefiro Borgonha a Bordéus, prefiro Madeira a Porto e gosto muito de Porto, prefiro Trincadeira a Antão Vaz e não gosto de Viognier.
Tenho por isso, e tal como qualquer sério consumidor, o meu próprio gosto. Só bebo aquilo que gosto, como tal só faço aquilo que gosto, na esperança que mais alguém goste! Bebo vinho quase todos os dias, nuns mais do que noutros, e nuns dias vinhos melhores que noutros… faz isso de mim um consumidor médio?!