Vinho ao Vivo 2018, Festival Europeu do Terroir, 13 e 14 de Julho
Entrevistas realizadas por Nadir Bensmail d’Os Goliardos
1. Da engenharia em Paris ao cultivo da vinha em Seia, o que mudou na tua visão do mundo? Muita coisa, a vida é assim mesmo, sempre a evoluir, a aprender. Ainda estou em fase de adaptação a esta nova realidade, em transição de um mundo urbano para um mundo profundamente rural.
Cada um tem as suas virtudes e os seus defeitos. Estou a aprender a lidar com tudas estas facetas. Ao mesmo tempo estou confrontado com a mudança de pais e diferenças de cultura. Adoro Paris e a cultura francesa, mas ou mesmo tempo não me sentia preenchido enquanto engenheiro, embora tenha sido uma grande evolução socio-cultural para mim que venho de origens muito humildes. Senti a saudade daquela região, daquele meu Portugal onde ia de férias quando era puto e adolescente, onde me sentia livre. Por isso tudo fiz para tentar mudar de vida. Para ser feliz, vivendo com a minha familia, da terra onde tenho as minhas raizes. Não é facil, o caminho ainda não acabou. Os obstaculos são numerosos, o mundo é duro, mas apesar do cansaço, ainda consigo vislumbrar aquela luz ao fundo do tunel.
2. O teu ponto de partida foi recuperar tradições de cultivo e um património de cepas da zona da tua família em via de abandono, como se insere a questão natural nisso?
Sim o ponto de partida foi o acreditar no potencial da região do Dão Serra da Estrela, região histórica no vinho de Portugal. Este projecto tem varias dimensões, a questão do natural veio ao longo dos anos a desenvolver-se, mas o ponto de partida era a preservação do legado genetico das vinhas e do legado cultural nas praticas agricolas. O contacto com as pessoas mais velhas nas aldeias, a sensibilidade as questões ambientais, socioliogicas e etnologicas, o facto de ter acesso aos vinhos naturais em Paris, o facto de ter conhecido o Luis Lopes (ex-Qta da Pellada), o facto de ter visitado muitos produtores com a mesma sensibilidade em França, são varios os factores que me levaram a evoluir para processos de viticultura e de vinificação cada vez mais naturais. Felizmente, faço vinhos que gosto de beber.
3. Agora mais próximo das vinhas morando desde pouco no Dão, como vives o trabalho a tempo inteiro de produtor?
O facto de viver a tempo inteiro no campo permite ir mais longe no acompanhamento das vinhas, perceber melhor toda esta complexidade.
Ao mesmo tempo sinto uma grande responsabilidade, tenho de lidar com todas as dimensões desta actividade (viticultura, adega, comercial, administrativa e financeira).
Não é facil, têm sido dias, semanas e meses de muito trabalho e sacrificio.
Agora com a minha familia, estamos a precisar de uma boa festa e de umas boas férias!